Almanaque Ilustrado d'A Liberdade para 1913 - Aveiro
Acerca desta publicação
Carta itinerária do distrito (Distrito de Aveiro)
Guia do Viajante
De Águeda pode seguir-se para Albergaria-a-Velha pelo caminho de ferro. Apenas uma hora de viagem. A região que a linha atravessa é sempre muito pitoresca, principalmente quando chega a alturas do Vouga e de Macinhata. Fica em frente, na outra margem do rio, a mata do antigo convento de Serem. Em baixo, a histórica Ponte do Vouga e o Marnel onde se deu um combate com os franceses quando das invasões e uma ação importante entre miguelistas e constitucionais.
A linha passa o rio perto da Sarnada onde fica o entroncamento com a linha de Espinho a Vizeu. Depois da Sarnada a linha tornêa uma montanha de grande altitude, subindo para Albergaria-a-Velha. É um aspecto singular o que nos oferece a linha trepando pelas encostas ingremes e escalvadas e que só encontra igual nas passagens mais dificeis dos caminhos de ferro transmontanos. Esperimenta-se uma emoção forte pelo grande declive que se atinge e pela altura a que se sobe. O golpe de vista, nos sitios donde se vê a linha cortar a montanha, é soberbo.
Albergaria-a-Velha é uma vila importante. É digna de ser visitada a fabrica de papel de Vale-Maior a pouco mais de 1 kilometro a nascente da vila, ao lado da estrada de Vizeu e situada sobre a margem do Caima, num sitio lindissimo. Daqui pode seguir-se a Sever do Vouga
Perto de Albergaria fica a serra da Senhora do Socorro donde se admira um grandioso panorama que se estende até ao mar. O Pico do Monte onde se faz uma grande romaria é magestoso. Antonio Correia de Oliveira dedicou-lhe uma das suas mais lindas poesias.
De Albergaria pode voltar-se a Aveiro em carro por ANGEJA cujo Tunel formado pelo arvoredo sobre a estrada que acompanha o Vouga é muito aprazivel. Angeja é uma das melhores povoações do distrito e tem lindas vistas de monte, de campo e de rio. É iluminada a acetilene. Está em construção um magestoso edificio escolar.
A viagem de Aveiro a Angeja em carro, que é um bom passeio, demora 1 hora, passando-se a Esgueira, Cacia, ponte sobre o Vouga, onde se paga portagem, Tunel, Varzea etc.
De Albergaria pode seguir-se pelo caminho de ferro do Vale do Vouga até Oliveira de Azemeis
Lindas vistas do comboio sobre a planura dos campos de Aveiro e Estarreja, ria, Murtoza etc. O sitio da Branca á direita, com uma povoação em anfiteatro na encosta de um monte é muito interessante.
imagem: Angeja Vista Geral
Distâncias nas principais estradas do distrito
Albergaria-a-Velha
No ano de Cristo de 1117, ou seja 1155 da era de Cesar, pelo mez de novembro, passou a infanta-rainha D. Tereza, mãe de Afonso Henriques, nosso 1.º rei, uma carta de previlegio a Gonçalo Eriz, concedendo-lhe a sua vila ou quinta de Osseloa (hoje Assilhó), que confináva com terras de Santa Maria da Feira, onde a carta foi assinada. A vila ficava na estrada que vinha do Porto.
A carta do couto não foi concedida, a titulo de generosidade, mas com a clausula de estabelecer uma albergaria no meigonfrio sobre a estrada, da qual foi primeiro albergueiro Gonçalo Cristo. A ilustração que publicamos do cruzeiro da albergaria indica que essa albergaria fornecia aos albergados. Parece que os terrenos de Osséloa eram muito agrestes, pois, entre os tributos a pagar, figuravam as mãos de cada urso que ali fosse caçado. A carta já não existe no original, mas unicamente uma copia autentica. Em 1258 (era de 1296) houve uma questão suscitada por direito da albergaria, tendo de intervir D. Egas, bispo de Coimbra. A albergaria já não existe. Néla esteve muito tempo instalada a cadeia comarcã, mas, mais tarde, foi vendida e demolida, achando-se, no seu logar, construido o palacete do sr. João Patricio Alvares Ferreira, que se vê numa das ilustrações que publicamos. Da albergaria só existe a lapide, que não é a primitiva, e foi colocada na parede interior, lado direito, do atrio da nova cadeia. A albergaria prestava utilissimo refugio aos passageiros, que se viam perseguidos pelas quadrilhas de malfeitores de Valegrande (hoje Valemaior) linda povoação a 3 kilometros de Albergaria, onde existe a mais importante fabrica de papel da Companhia do Prado, de que também publicamos uma ilustração.
A vila de Albergaria possue uma magnifica cadeia (unica de província), explendidos Paços do Concelho e uma egreja rasoavel. Nesta existe um belissimo altar-mór de talha dourada, bastante descuidado, mas apreciavel.
A estação do Caminho de Ferro do Vale do Vouga é, certamente, a mais bem situada de toda a linha.
A vila tem lindos passeios, mas os principaes são ao Vouga, Bico do Monte e Tunel d'Angeja. Nesta freguezia existia o antigo solar dos Marquezes d'Angeja, ainda ha poucos anos demolido, do qual apesentamos de armas, que ainda hoje existem nas mãos dos herdeiros do saudoso Antonio Nunes Ferreira. E' abundante de peixe do Vouga e da pateira de Frossos; nesta costumam aparecer pimpões de varias côres, mas principalmente vermelhos, aqui muito apreciados para aquarios.
No lugar de Paus (antiga vila e séde de concelho) existem muitos fornos de telha ordinaria, mas que tem muita venda. A sua população é de 13:525 habitantes, e dista 18 kilometros de Aveiro. A vila tem só uma freguezia (Santa Cruz) e o concelho compõe-se de 8 freguezias com 3:441 fogos, segundo o Censo da população de 1900. E' comarca de 3.ª classe, criada pelo decreto de 20 de setembro de 1890, e instalada em 7 de outubro do mesmo ano pelo Juiz, dr. José Diniz da Fonseca. Tem mercado dominical muito abundante sendo o principal comercio do concelho – arrôz, louça de barro, madeiras, telha e milho. Ficam neste concelho as importantes minas de cobre de Palhal e Telhadela, a primeira das quais principiou a ser explorada em 1854. A capela do Bico do Monte, sob a invocação de Nossa Senhora do Socorro, foi mandada erguer por um grupo de devotos, em 1857, por se verem livres do flagelo da epidemia do colera-morbus, que dois anos antes invadiu todas as casas.
A demarcação das terras da Albergaria foi feita a 5 de junho de 1628 pelo provedor Jorge d'Andrade Corrêa, com nove marcos, e, por sentença de 27 de maio de 1627, lavrada pelo celebre Tomé Pinheiro da Veiga, foi colocado á entrada da vila (hoje Salgueirinho), um padrão em que se dizia que ali principiava a albergaria de D. Tereza. Dizem que esse padrão foi arrancado e está fazendo parte do cruzeiro do Bico do Monte!
Tem um chafariz de um belo gosto architectonico, obra do constructor albergariense José da Silva Vidal. Desta vila eram naturais os grandes liberais dr. José Henriques Ferreira, e seu irmão João Henriques Ferreira, o qual, nas lutas entre liberais e miguelistas, foi enforcado, tendo estado a sua cabeça espetada num pau em frente das suas janelas durante trez dias.
A vila é sadia, e o povo é de sua indole disposto ao bem, trabalhador e hospitaleiro, para não renegar a tradição da velha albergaria.
http://ww3.aeje.pt/avcultur/Secjeste/Arkidigi/Mem_Aveiro/Almaliber1913/Page159.htm
Índice Geral de Conteúdos
Imagens
Imagem Chafariz
Imagem Lápide
Imagem O túnel na margem do vouga Angeja
Imagem vista da Vila e Fabrica de Papel de Valmaior
Texto de José Peres (
Um itinerário para 110 Kms)
ALBERGARIA-A-VELHA
Vila capital de concelho de 3.ª, fiscal de 4.ª, comarca de 3.ª Bispado do Porto. Distante 18 kilometros de Aveiro, 13.175 habitantes no concelho. Correio e telegrafo.
Caminho de Ferro – Vale do Vouga, estação de Albergaria-a-Velha.
Freguezias do concelho, 7.
S.ª Cruz (vila).
Alquerubim, Angeja, Branca, Frossos, Ribeira de Fragoas, S. João de Loure, Vale Maior
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Feiras e mercados do distrito
Albergaria-a-Velha. – Mensais: Paus. a 5. Espinheiro, a 22. Angeja a 26. Mercado semanal em Angeja aos domingos.
Artigo de Domingos Guimarães
Domingos Guimarães é um publicista distinto e um elegante burilador da frase, bem conhecido nas nossas letras para que aqui lhe viessemos traçar mais largo perfil.
Vive em Vale-Maior, entre montanhas, entre ramagens verdejantes, entre livros queridos, entre as aguas que romorejam, trabalhando, pensando, escrevendo.
Daí tem ele dirigido e produzido algumas das melhores publicações do nosso paiz. No artigo que vai lêr-se, o brilhante espirito de Domingos Guimarães surpreende admiravelmente com mão de mestre e impressão de artista, a beleza da terra marinha que nos foi berço
Viagens pelo caminho de ferro
Índice Geral Alfabético
Índice de Autores
Corrêa de Oliveira - Senhora do Socorro (poema)
Domingos Guimarães - Aveiro!...
Domingos Guimarães - Viajar
Índice Onomástico e actividades
Meses e cuidados a ter
Ficha Técnica
Título − Manual do Viajante no Distrito de Aveiro
Subtítulo − Almanaque Ilustrado de A Liberdade para 1913
Guia do Turiste com uma Carta itinerária para uso dos viajantes e automobilistas no Distrito de Aveiro
Responsável editorial − Alberto Souto
Edição − Empresa "A Liberdade", Aveiro
Data − Ano 1.º, 1912
Dimensões − 13,4 x 17,8 cm
Páginas − 232
Adicional − Carta Itinerária do Distrito de Aveiro Dim. 31 x 39,4 cm
Reconversão digital − Henrique J. C. de Oliveira
Apoio − Agrupamento de Escolas José Estêvão − Aveiro
Serviços de Reprografia da Sec.ª José Estêvão
Ano de reconversão − 2018
Colaboração − José Luís Cristo / Diamantino Dias
"A Liberdade" julga prestar um serviço a todo o distrito de Aveiro, fazendo-lhe por esta forma a melhor das propagandas. De alguns concelhos vão noticias resumidas e do de Arouca quasi nada se diz, porque não nos chegaram a tempo as informações e fotografias que haviamos pedido. No proximo ano tudo isto será remediado e o Almanaque de A Liberdade tornar-se-ha, assim, uma publicação do maior interesse e da maior utilidade.
(Para esta entrada resumida apenas copiamos informação sobre o concelho de Albergaria-a-Velha, pelo qual agradecemos aos autores da iniciativa, e aconselhamos a utilização de alguns dos links que dão para as
páginas onde se encontra arquivada a edição completa)