segunda-feira, 18 de março de 2013

Tese

Sendo o GDUP da ECOP formado por operários da Construção Civil contratados para uma obra especifica (neste caso a Escola Técnica) resolvemos devido a termos um problema que é comum neste distrito de Aveiro, desenvolver uma tese sobre as condições dos contratados e as perspectivas de trabalho junto deles para alcançar a sociedade socialista.

I

A região sul do distrito de Aveiro tem-se caracterizado por uma fraca movimentação do proletariado industrial desde o 25 de Abril até aqui. Isto acontece por várias razões algumas das quais podemos enumerar:

— Grande parte do proletariado possui um pequeno talhão de terra que amanha depois de sair da fábrica. o que lhe origina o medo que lha roubem.
— Haver o domínio da pequena indústria sobre a grande.
— Haver um grande número de operários contratados por um ou dois meses que no fim desse período podem vir a assinar novo contrato.

II

É sobre o último caso que nós iremos debruçar detalhadamente visto ser o nosso caso especifico.

A ECOP-Arnaldo Oliveira é uma empresa de Construção Civil do Porto, que vem do Porto e contratou em Albergaria-a-Velha 50 operários até acabar a obra.

A situação destes operários tem muitas especificidades como por exemplo:

— Não têm assistência social pela Caixa de Previdência.
— Não têm subsidio de férias nem 13.º mês.
— Não têm direito a férias.

Além destas condições estão constantemente ameaçados pelo desemprego porque basta o patrão não querer e legalmente não assina o contrato.

III

Aliado a este receio o patrão vai dando as habituais compensações quer monetárias quer através de facilidades aos operários mais obedientes, conseguindo assim uma base de apoio dentro da fábrica que ataca todos os operários que se insurgem contra as injustiças cometidas sobre eles.

Assim é frequente ver-se numa fábrica operários a pôrem-se contra camaradas seus. acusando-os de querer arruinar o patrão que "está a ter prejuízo com a fábrica", só a mantendo aberta porque não quer atirar os trabalhadores para o desemprego e outras lamúrias que lhes são impingidas.

É também frequente ver-se delegados sindicais serem espancados pelo patronato sem haver um repúdio generalizado por parte dos operários.

É evidente que neste clima de terror que os operários aqui vivem e não são as boas palavras que fazem por exemplo com que uma fábrica adira à greve dos metalúrgicos quando decretada pelo sindicato (que é na sua maioria PS).

IV

Isto seria um panorama muito negro se nós nos alheássemos da evolução contínua da situação política portuguesa. Mas neste momento alguns daqueles que ontem defendiam acerrimamente posições do PPD, como é o caso de 3 elementos que hoje integram este GDUP e que já pertencem a uma organização revolucionária, vêem já mais claramente quem são os seus inimigos de classe e quem os defende. Deste modo, nós tentámos despoletar uma luta. que embora não tivesse ido para a frente por falta de apoio da maioria dos operários, teve o apoio bastante activo de vários CDSs, PPDs e PSs.

É na grave crise económica que existe neste pais e que não tem solução capitalista sem ser por métodos repressivos ainda maiores do que os usados neste momento (ou seja através do fascismo) e que irá originar nos tempos mais próximos medidas de restrição que irão despoletar grandes lutas. Pois quando a fome chega já não há mesmo nada a perder para a classe. Assim iremos ver os operários a mandar à fava quem os ilude neste momento e a aderir a um programa revolucionário.

V

Mas aqui surge um perigo: os GDUPs pondô-se à cabeça da luta reivindicativa não terem um programa político que aponte claramente os saltos qualitativos a dar. E é este programa (essa estratégia) que os GDUPs têm que encontrar neste congresso. Porque um programa de luta não basta, porque à luta seguir-se-á a repressão e à repressão a resposta quer nós queiramos quer não. Este clima irá originar graves perturbações a que a burguesia tentará dar resposta fazendo o seu golpe à chilena, a que corresponderá uma resposta do proletariado mais consciente. Se essa resposta não se alargar a todo o proletariado e a certos sectores da pequena burguesia que se queiram aliar, então podemos ter a certeza de que o fascismo se instalará.

Neste sentido temos que apontar claramente na organização da classe não para reivindicar melhores salários mas para conquistar o poder à burguesia. Porque o ciclo de aumento de salários-aumento de preços não tem viabilidade de durar muito tempo em Portugal, quer pela consciência que a classe adquiriu em certos pontos do pais e que não tardará em adquirir nos meios onde a direita ainda domina. depois das lutas que se darão, quer pela impossibilidade da situação aguentar muito tempo de agitação social.

GDUP—ECOP

Página UM, 30/10/1976

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