quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Anefa - Entrevista a José Ricardo Bismarck

Entrevista a José Ricardo Bismarck, Cmdt. dos Bombeiros Voluntários de Albergaria a Velha, publicada na Revista da Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente do 3º trimestre de 2009.
É indiscutível o papel das Corporações de Bombeiros nesta temática. A importância de ouvir quem lida com os fogos florestais na 1ª pessoa traduz-se na entrevista a [alguns] Comandantes de Corpos de Bombeiros.

Qual a área florestal e população que a corporação tem a “seu cargo” e com quantos efectivos contam?

José Ricardo Bismarck - O concelho de Albergaria-a-Velha tem 15.300 ha. Sendo que 80% é área florestal, com predominância quase absoluta de eucalipto. Temos uma população de 25.000 habitantes.

No Corpo de Bombeiros, contamos com 20 elementos profissionais e 120 voluntários. O piquete de fogo é diariamente constituído por 5 bombeiros, profissionais no horário normal semanal e voluntários nos outros horários.

Na fase Bravo e Charlie, existem 5 e 7 bombeiros para intervirem nos incêndios florestais.

Há muitos “obstáculos” na vossa actividade?

J.R.B. - As dificuldades gerais são estruturais e de entrosamento entre as diversas entidades que têm responsabilidades no combate aos incêndios florestais.

Nas dificuldades estruturais, saliento a falta de apoio do Estado ao voluntariado e o excesso de exigências, algumas delas burocráticas; Limitação da idade para a entrada nos bombeiros aos 35 anos; ausência de um quadro auxiliar de especialistas (Engenheiros florestais, civis, químicos. Médicos, enfermeiros, psicólogos. Mecânicos, motoristas, socorristas).

Por outro lado, no terreno, existem diversas entidades que assumem o combate inicial aos incêndios florestais, como especialistas em 1ª intervenção (conforme a legislação em vigor), mas na prática, o ónus do combate está nos bombeiros. É muito mais fácil ter taxas de eficiência no combate a fogachos, torna-se mais difícil em incêndios com mais de 10 ha, ainda mais com 100 ou 1000 ha. Diz um ditado popular que “quem come a carne, que roa os ossos”.

Não se pode continuar a passar a mensagem para a população, que uns são rápidos e bem treinados e que os outros não têm formação adequada (quando esta é a mesma e ministrada na mesma instituição).

Que mecanismos e meios têm à disposição para prevenção e combate e qual a vossa capacidade de resposta?

J.R.B. - Durante a fase bravo 1 ECIN 5 bombeiros (Equipa de Combate a Incêndios Florestais). Na fase Charlie 1 ECIN e 1 ELAC 5+2 bombeiros (Equipa Logística de Apoio ao Combate). 2 Grupos GIPS-GNR terrestres 2 helicópteros com brigada de 5 soldados. 1 Equipa de Sapadores Florestais. A capacidade de resposta é boa e rápida, permitindo que no Concelho não haja nenhum incêndio com mais de 10 ha desde 2005.

Quais as principais dificuldades encontradas no terreno?

J.R.B. - A falta de ordenamento florestal será o maior problema, reflectindo-se na falta de acessos, limpeza. Por outro lado, como estamos numa zona de monocultura do eucalipto, não existe descontinuidade florestal, o que aumenta significativamente o risco de um incêndio consumir uma parte importante da floresta. Este fenómeno, em Albergaria-a-Velha, ocorre sensivelmente cada dez anos.

O que pode a população fazer para ajudar ao vosso trabalho?

J.R.B. - A população é parte integrante do problema e da solução. Em primeiro lugar, limpar as zonas envolventes das suas habitações, criando uma faixa de descontinuidade mínima de 50 metros, permitindo que os incêndios florestais junto de povoações, não envolvam riscos urbanos. Assim, os bombeiros concentram-se unicamente no combate ao incêndio florestal.

Seguirem as instruções emanadas quer pelos bombeiros, quer pelas outras entidades; Não fazer queima de sobrantes durante a época proibida; não lançar foguetes; cumprir com as ordens de evacuação, etc.

Considera que as empresas locais que executam trabalhos florestais deviam ter um papel activo na prevenção e combate aos incêndios?

J.R.B. - Claro que sim. As empresas florestais são as primeiras interessadas em que não existam incêndios na floresta. Vivem da floresta, para a floresta e da floresta. Com a situação actual, só acumulam prejuízos.

A solução passa por fazerem plantações ordenadas e com um plano de DFCI (Defesa da Floresta Contra Incêndios).

Penso que uma das soluções para o futuro, será a constituição de ZIF’s (Zonas de Intervenção Florestal), visto haver a necessidade de emparcelar, para aumentar a dimensão de cada zona a intervencionar.

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